Leio-a com atenção. Com mais atenção umas vezes, com mais pressa outras. Admiro, todos os dias, a coragem que mostrou nos idos de 2006, na reviravolta imensa que impôs à sua vida porque... escolheu o amor. A N., a par do meu Bruno Marco Polo, faz prova viva de que se muda tudo por amor. Que, por amor, sim, se muda de país, se reinventa uma profissão, se deixa longe pai, mãe, irmãos, amigos, a casa, a vida que se conhece... para seguir a viagem que já só pode fazer sentido de mão dada com o outro. Desde que namoro com o B., uma das coisas em que penso é que, muito provavelmente, terei de ser eu a mudar de cidade, terão de ser as minhas rotinas a mudar mais, terei de ser eu a reconhecer amigos novos noutro sítio, determinando-me a, apesar disso, fazer-me e fazer presentes os que ficam por aqui. Não vos digo que seja uma decisão tomada sem alguma impaciência, mas não há tristeza nisto. No fundo, escolho seguir, se assim acontecer, a minha viagem com ele. E, nas concessões de que fala a N., percebo que, nisto, me cabe a mim ceder. Vou para ali ao lado, a uma hora de caminho por estrada boa. A N. e o meu Bruno Marco Polo deixaram os seus à distância de longas horas de avião. Quando decidiram mudar de vida, mudaram radicalmente. E são inspiradores. Hoje, ao ler o hino ao amor que a N. escreveu, quis comentá-la, dizer-lhe, como às vezes dizemos uma à outra, em privado, como a admiro. Mas pareceu-me egoísta não partilhar convosco uma das histórias mais bonitas que conheço. As histórias bonitas são, inevitavelmente, facilitadas por pessoas bonitas. A N. e o meu Bruno Marco Polo são pessoas lindas, daquelas que devemos guardar como tesouros raros quando a vida nos faz cruzar com elas pelo caminho. Uma vez, há muito tempo, disseram-me que o pior sítio para fazer amigos é o local onde se trabalha. Venho reconhecendo à frase a justiça das regras e temperando-a, muito feliz, com preciosas excepções. Tenho os melhores amigos encontrados enquanto lutava por me impôr profissionalmente. O único segredo, continuo a dizer, é não fazer da vontade de ser um profissional reconhecido um fim que justifique todos os meios. Com a lealdade própria da condução das vidas serenas de quem quer, tão só e apenas, o seu lugar no mundo, não o de qualquer outro, consegue-se, sem esforço, viver a amizade maravilhosa no trabalho. A N., colega de mestrado, conquistou-me pela voz meiguinha, pela inteligência sensata, pelo equilíbrio oportuno entre a firmeza e o mel. Foi impossível continuar a dizer, no fim daqueles meses, que era minha colega. Porque tenho demasiados colegas para admitir que se lhes equiparem, seja no que for, os meus, muito meus, amigos. Parabéns, N.. Que alegria imensa ir-te sabendo feliz.
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