Vamos por partes. Quando andava na faculdade, o cortejo era uma coisa animada e perigosa. Não havia dia de cortejo em que alguém não se cortasse nos vidros das garrafas vazias atiradas para o chão. Era uma coisa assustadora e, também por isso, o ano em que mais gostei de ir no cortejo foi... o quarto - o ano do carro. Mesmo mais que no último, cartolada, finalista, mas a ter de medir onde punha os pés. Bem sei que naquela altura havia exageros, que os comas alcoólicos não são novidade e que gente a vender as garrafas angariadas no cortejo, depois, à noite, às portas do Queimódromo, também era fraca figura. Mas, enfim, o tempo, na sua passagem, não veio trazer melhoras. Comecemos pela ideia peregrina de desmembrar a Queima, acabando com a mística da semana do tudo ou nada. O domingo, sempre dedicado à Garraiada, depois de uma sesta dormida no areal da Figueira, no pós Jantar de Gala, servido no Quartel, deu lugar a um domingo que roubou à terça feira o protagonismo do Cortejo que precedia a noite do Quim e, pasmem, o Jantar de Gala passou para Santa Clara!!! A Garraiada é num dia que já nem consegui fixar e quer-me parecer que nem o Chá Dançante se mantém na tradicional quarta feira. Este ano os meus alunos não têm aulas. Não têm. Não damos aulas. Apesar disso, vejo-os menos envolvidos do que eu me achava envolvida. Não falam das flores, trajam pouco e resumem a Queima às noites de Parque. Não vi uma alminha que fosse a fazer a Venda da Pasta. Mas o pior não é isso. O pior é o disparate em que transformaram o momento do cortejo propriamente dito. É uma actividade nojenta e pegajosa querer assistir a um Cortejo hoje em dia, porque não há vidros, há latas (perfeito), mas há sobretudo banhos de cerveja. Banhos. Sabem o que são banhos?! Uma pessoa custa muito a vir de lá a cheirar a outra coisa que não seja cerveja. Pior. Há miúdos que devem ter transtornos graves na compreensão do fenómeno académico e que entendem que é tradição despejarem cerveja pela cabeça abaixo. E há quem o faça não sendo estudante de Coimbra, o que me dá ainda mais vontade de desatar a bater nas pessoas. Ontem estavam duas anormais à minha frente, naquela idade em que uma pessoa só por decoro é que não as vira ao contrário para lhes desfazer o rabo com porrada, que entendiam dever pedir cerveja em todos os quase cem carros e correr uma atrás da outra a despejá-la pela cabeças abaixo (!!!). Estavam possuídas. E não estavam trajadas, portanto, o mais certo era nem serem estudantes universitárias, ou, pelo menos, cá. Não. São pessoas que saem de casa um domingo à tarde para fazerem figuras tristes. Vão para rua com esse propósito. E, embora lhes falte muita coisa, não lhes falta competência para o atingirem. Como elas, há muitos. Muitos. Há demasiados. E isto estraga o que é a Queima. Isto não é bonito, é só deprimente. Fiquei lá meia hora, vi o mano, dei beijinho ao mano, fotografei o mano e... fui à minha vida. Não tive capacidade para me aventurar por aquilo adentro à procura de alunos. E tenho pena. Tenho mesmo pena. Mas não me apetecia vir de lá encharcada em cerveja. Odeio cerveja. Odeio o cheiro da cerveja. Odeio. Enfim. Já nada é como era. Tenho pena. Porque era tão bonito que tenho alguma dificuldade em imaginar que, por este caminho, algum dia consigam fazer melhor.
um grande gosto e concordo plenamente. poder desfilar no cortejo de coimbra é um orgulho.
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Nós devemos ter vivido em Coimbras paralelas! Nunca na vida ouvi falar de cortes com garrafas no cortejo nem nunca tive de ver onde punha os pés (e fiz sempre os cortejos inteirinhos a andar - que eu compreendo quem não acha piada às flores de papel e dispensa ir no carro, foi o que fiz!).
ResponderEliminarConfesso se este ano conseguir ir para a faculdade vai ser um sonho concretizado e qundo me formar vai ser o melhor dia da minha vida.
ResponderEliminarPois serei a primeira pessoa da família a se formar.Embora já ter trinta e dois anos em Julho faço trinta e três,nunca vou desistir deste sonho.
Adoro as serenatas em Coimbra,só de ver aqueles estudantes vestidos a rigor e a cantar faz-me chorar.
Infelizmente sou de Lisboa cá não à isso,mas para mim a queima não é importante.Importante é sim quando chegar a finalista e poder assister a benção das pastas que o bispo de Lisboa faz.
Eu não sou càtolica nem tenho religião,mas é pelo acto simbolico que tem.
As pessoas não se sabem divertir,e eu acho que a queima é um acto de diversão,mas para tudo à um limite,e concordo plenamente com o que escreves-te.