Estou aqui engasgada com isto. Já escrevi e já apaguei umas dez vezes um comentário no facebook. Já pensei ligar pelo menos ao meu homem ou a um amigo só para desabafar. Já me esforcei por continuar a corrigir exames, que é a minha vida por estes dias, e esquecer o assunto. Mas não consigo. E o blog, enfim, leva por tabela. Preciso deitar cá para fora, mas tenho muito que medir as palavras e seleccionar os receptores da informação. Por isso, o blog é perfeito. Quase ninguém me conhece, metade das pessoas que me conhecem não vão perceber nada do que eu vou dizer e a minoria que vai entender gosta demasiado de mim para não perceber que não se trata de nenhum sentimento mesquinho ou de me sentir injustiçada enquanto R., mas de uma profunda incompreensão pelas políticas dos sucessivos governos deste país. Eu não sei nada de praticamente tudo. Salvo uma honrosa excepção de uma ínfima parte do conhecimento jurídico em que, por acaso, se cruza o penal com a família, eu sou uma profunda analfabeta. Não sou especialmente boa em nada. Nem a matemática, nem a inglês, nem em música, nem em maquilhagem, nem em culinária, nem em arranjos florais, nem em economia, nem em biologia, nem em nada. N-a-d-a. Naquele minúsculo espaço do direito, porém, eu sou um bocadinho melhor que nódoa. Por isso, às vezes escrevo sobre ele, às vezes falo sobre ele, às vezes estudo sobre ele, uma vez fiz uma tese de mestrado sobre ele, hoje tento acabar uma de doutoramento sobre ele e, espantem-se, em 2006, um professor com o qual nunca mais tinha falado na vida desde a oral em que me deu boa nota, convidou-me para trabalhar num grupo que tratava o tema. Como vêem, só acho que sei um bocadinho daquilo porque já houve gente esperta a dizer que eu sabia e até há gente que paga para me ouvir falar ou para ler o que eu penso daquilo. Aquele grupo de que falo ali em cima, porém, é(ra) composto por muita gente, e muita dessa gente, indiscutivelmente, é mesmo, mas mesmo, mas mesmo boa naquilo. Há lá gente com idade para ser minha avó. Gente que, pronto, passou uma vida inteira a pensar no assunto, não sei se estão a ver o género. O grupo, uns mais outros menos, mas enfim, isso é como tudo, trabalhou. Mostrou serviço. Levantei-me muitas vezes muito cedo para falar com pessoas, fiz algumas directas a escrever relatórios para o Governo e devo estar a dever alguns destes meus cabelos brancos às histórias que fui ouvindo. Um dia, o Governo mudou e o grupo foi literal e esmagadoramente esquecido. Por carolice, ainda fomos fazendo umas coisas e a verdade é que ainda hoje, volta meia volta nos reunimos e pensamos nuns assuntos (Ontem, por exemplo, a malta esteve junta. Eu, por acaso, não estive. Não por falta de vontade, mas porque este meu mês de Janeiro está a ser demasiado atípico e porque, a somar a tudo, ainda tive o homem da Bosch cá em casa a arranjar-me a máquina de lavar louça durante a tarde.). Hoje, qual não é o meu espanto quando reparo numa curiosa iniciativa deste Governo para estudo do assunto. Criando grupos. Assim, ignorando estoicamente que já há um grupo formado. Esquecendo, nas gavetas com buracos que eu aposto que há em Lisboa, os milhares de páginas em documentos que ao longo dos últimos anos fomos enviando. Aposto que as conclusões daqueles grupos, vendidas a preço de novas daqui a uns meses, me hão-de, na grande maioria dos casos, cheirar a mofo, porque já cansei a beleza a escrevê-las e a explicá-las... para o boneco. As pessoas até agora indicadas para os grupos estão, notem bem, acima de qualquer suspeita. E olhem que não falo de cor. Conheço-as. Já trabalhei com elas. Sei que são boas. Mesmo boas. Mas, porra pá, vão repetir serviço?! Vão mesmo?! Num país a queixar-se repetidamente da falta de fundos, vão mesmo pagar às pessoas para fazer o que já foi feito?! Ou, pelo menos, muito do que já foi feito?! Não entendo... Parece que moro num Portugal a brincar.
É que é mesmo de bradar aos céus! E não há forma mais "oficial", digamos, de denunciarem uma idiotice dessas? É que tenho um par de histórias semelhantes que te poderia contar e o frustrante é não se poder pedir o livro de reclamações e fazer alguma coisa. É chato. Não mata, mas mói.
ResponderEliminarBeijinhos.