Gosto muito de ler. Acho que um bom livro pode, consoante as nossas necessidades, ser o nosso melhor amigo, o confidente de uma angústia premente (passe a aparente redundância) ou o companheiro de uma viagem longínqua que a alma enceta sem pedir licença, por necessidade imensa de desbravar tempo e espaço lá longe. Leio por prazer mais nas férias que durante o tempo lectivo, em que os meus olhos se estafam em leituras obrigatórias de matéria jurídica de toda a raça (menos fiscal, administrativo, trabalho e cenas dessas com números, que eu cá sou das pessoínhas). Este ano, porém, mesmo em férias li pouco. Voltava à minha Pavia adorada, pela mão firme de um amor a nascer, e não se impunha que me desviasse desse bom ritmo de namorar e pensar a dois. O silêncio, que prezo tanto como às palavras, fazia-se menos, e os livros, oportunos nos espaços vagos da vida, em que podemos saboreá-los melhor, iam ficando para trás. Além disso, há uns tempos que não me apego a um texto, assim daquele jeito em que me dói despedir do livro como afastar-me de um amigo que parte para longe. Tudo junto, tinha o meu homem convencido que lia pouco. Que lia, pois, que também não parece fácil poder ser o que sou, até profissionalmente, se não lesse, mas que ler não era tão gostoso para mim como para ele, leitor compulsivo de tudo e mais alguma coisa, capaz de absorver o melhor de um livro numa leitura diagonal, por pressa de recomeçar a lide da descoberta do novo. Ontem, acordei e pus-me a ler. Olhei-o, invadida por uma atenção grande que me chegava por cima do ombro, e descobri-o embevecido. Perguntei-lhe o que era. E, pelos vistos, apaixona-se mais por mim nos gestos miúdos de todos os dias: quando leio, quando bebo água ou quando me reclino no sofá e vou permitindo ao sono que me desça as pálpebras de mansinho. Este homem é um ponto. E agora combinámos ler mais. A ver se se apaixona tanto por mim que um dia destes até ficar a pé toda a noite porque me dá para falar lhe vai parecer lindo... e um episódio do mais apaixonável que há.
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