Fazes-me falta
É raríssimo usar anéis. Nunca me lembro de ter tido um anel que usasse todos os dias, de que sentisse a falta, que me fizesse sentir despida das mãos quando não está. Usava-o desde a tarde em que, em Milão, mo pôs no dedo. Sempre. Fazia parte de mim. Era incapaz de sair à rua sem ele. Depois veio o acidente, vieram os estilhaços, veio a dificuldade imensa em sair do carro, com o cinto preso, enfim, a aflição. Quando me achei na rua, ainda com as pernas, os braços e a cara cheios de pequeninos cortes e sangue a escorrer, percebi que o meu anel tinha sofrido com o acidente. Afligia-me o carro, mas devia parecer tolinha, porque não parava de olhar era para o anel. Levei-o, em Setembro, para arranjar. Tenho desesperado. Liguei hoje, ainda agora, mais uma vez. A resposta de sempre "Como o anel não existe em Portugal, teve de ir para Madrid para arranjar. É por isso que demora tanto, mas tenha paciência, porque deve chegar em breve." E o breve deles é longo. Muito. E ele faz-me falta. Muita.
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