Há coisas sem as quais eu não sei viver e, honestamente, não quero aprender. Sustentam muito mais de metade da minha capacidade de ser sã e seguir em frente. Eu não posso viver sem o amor dos meus, não consigo viver sem as doses certas de atenção e compreensão que me permitem sabê-los presentes, por mais que estejam longe. Eu não posso viver sem as palavras. Alimento-me de palavras. Preciso delas escritas e faladas. Preciso delas carimbadas em gestos e cedências, porque não me nego a fazê-lo também. Não acho que as palavras se gastem e, muito menos, que se banalizem. As palavras são como os dias e as noites. São sempre dias, são sempre noites, mas nunca são iguais. Porque em cada momento a palavra é ela própria e o sentimento que depositamos nela. Gosto muito da frase que diz que a palavra dita é como a pedra atirada, não volta atrás. É verdadeira. É de uma aparente simplicidade que se esvai facilmente quando a deciframos e percebemos a profundidade do seu sentido. Ainda que eu diga cem vezes num dia que gosto de alguém, há, em cada uma dessas vezes, uma dimensão nova do meu gostar. Porque as palavras são uma obra de arte. E não há escultor mais talentoso que aquele que sabe escolhê-las... agrupá-las... reinventá-las. Eu não posso viver sem palavras. Porque calar as palavras é uma forma, às vezes, de agir muito determinadamente. Não é uma omissão, se quiserem. Calar uma palavra que teima em formar-se no peito e é só feita de uma vontade genuína de agradar a alguém não é saborear uma dose certa de silêncio. Eu não posso viver sem abraços, sem beijos, sem mimos, sem cumplicidades. Não posso viver sem recebê-los e, tão autêntico como isso, eu não posso viver sem dá-los, como se me azedassem no coração os sentimentos mais nobres que lá se formam. Eu não posso viver como uma pedinte de afectos, porque isso me mata o encantamento e eu prezo ser uma alma encantada pela vida, pelo ontem, pelo agora e pelo depois, pelas pessoas.
Sem comentários:
Enviar um comentário