terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Cambada de inúteis

Passava pouco das nove da manhã quando fomos convocados para nos reunirmos às seis da tarde. Não se podia faltar. Não é coisa de estranhar este tipo de convocatórias colectivas. Às vezes, por volta do meio dia, um convoca todos os demais para um almocinho à uma. Foi, aliás, à custa dessa mania que nos auto intitulámos "Cambada de inúteis". Só uma cambada de inúteis consegue assim reorganizar-se para almocinhos básicos à última da hora. Enfim. Isto começou com as quintas de cinema. O núcleo duro, composto por quatro almas, em que me incluo (vá, até só começou com três, que o primeiro cineminha foi com a mulher do melhor melhor amigo fora e eu e o outro melhor melhor amigo a ir acudir-lhe à saudade), foi-se alargando. Aos jantares que precediam o cinema juntaram-se depois mais dois e, no último ano, os últimos dois elementos. Somos oito. A cambada de inúteis é composta por oito pessoas. Muito inútil junto, no fundo. Mal recebi a convocatória, avisei que duas das inúteis eram um bocadinho menos inúteis que os outros e tinham alemão à hora marcada. Adiou-se o evento para as vinte e duas horas. Com a cambada de inúteis é assim. Enquanto um não puder, a coisa não se dá. Todo o santo dia quisemos saber o motivo do ajuntamento. Haviamo-nos deslargado ontem já perto da meia noite e não se percebia o que acontecera durante a noite que justificasse convocatória tão madrugadora. Desde hipóteses de casamento a filhos a caminho, mudanças de país ou alteração dos hábitos alimentares (private joke), pensámos de tudo. Todo o santo dia os demais seis cuscaram o que teria o casal que convocava para nos dizer. Já não aguentávamos mais. Movemos influências. Nada. Eram vinte e duas horas quando, mobilizados, nos sentámos a escutar o que tinham para nos dizer. 

Tinham-lhes sobrado muitos doces de ontem e precisavam de uma ajudinha ao consumo. 

Entre porto, chá e açúcar de mil e uma maneiras, lá ficámos duas horas a conversar, a rir do disparate, a combinar ajuntamentos e a enrijecer os laços mais que inquebráveis que nos unem para sempre. Todos os dias mais um bocadinho. Tenho ali essenciais. Tenho ali uma parte imensa do meu coração. Gosto tanto destas pessoas que a vida sem isto e sem elas não teria metade da piada. Essencial, essencial é a gente. As coisas são nada ao pé da gente. A gente é que conta. A gente. A minha gente.

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