A isto, chama-se mau jornalismo.
Por razões que não vêm ao caso, perguntam-me muitas vezes, a propósito de casos assim, se não acredito nas famílias biológicas. É uma maneira fácil de pôr as coisas, como se isto pudesse ser só preto ou só branco. Não pode. E pensar-se que a complexidade deste tipo de caso pode desconstruir-se pela simplificação das questões só mostra como se percebe pouco, muito pouco do assunto. Acredito nas famílias biológicas. Sou pelas oportunidades. Até pelas segundas. E, em casos contados, pelas terceiras. Não acredito é nas famílias só porque são biológicas, o que é muito diferente. A adopção não está isenta de críticas, muito pelo contrário. O apadrinhamento tem sido estupidamente ignorado. A institucionalização não pode ser, sem mais, um projecto de vida. Mas cinco anos é tempo de mais. Cinco anos, lamento, são mil oitocentas e trinta oportunidades. Uma por cada dia. E famílias que não se erguem ou reinventam na protecção dos seus e na promoção do que lhes devia vir de dentro do peito durante mil oitocentos e trinta dias não merecem outra oportunidade. Nem mais uma. Devastaram mil oitocentas e trinta vezes o colosso de esperanças que a cada filho devia ser erguido. E isso, lamento, isso não pode ficar esquecido. O resto são flores. Tudo murcho ou de plástico, que serve tão só e apenas para entreter jornalistas que sabem nada do que escrevem. É assim. É este o Estado das coisas. Não. Embora eu acredite, em abstracto, nas famílias biológicas trapaceadas pela vida a meio do seu caminho, nesta não, nesta não acredito. E aplaudo, com ambas as minhas mãos, a resiliência dos que forem capazes de, todos os dias de agora em diante, manter o valor de uma decisão judicial.
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