A Rosa trabalhou uns anos em casa dos meus pais. Foi a melhor doméstica que algum dia por lá passou (a nossa F. não lê este blog...) e tivemos todos muita pena quando ela, por razões familiares, teve de mudar de país. A Rosa é mesmo boa no que faz. E há para isso uma razão muito, muito simples. A Rosa não é doméstica por não ter conseguido ser outra coisa, é-o porque gosta mesmo daquilo. A Rosa aprecia limpar e arrumar como poucas pessoas. É organizada, é determinada, teimosa, até, mas sobretudo é dedicada à causa, fá-la com gosto. Tomava a casa do outro como sua e tratava-a com o mesmo brio. Cuidava dos filhos do outro como se fossem seus e dedicava-lhes muitas atenções. A Rosa, nunca me esqueço disto, desmontava os rodapés de vez em quando para aspirar e lavar o pó que se acumulava por lá, arrumava as coisas de dentro dos armários da cozinha por cores e tamanhos, via se alguma lâmpada se fundia, apanhava as folhas secas do jardim e da calçada, dava banho aos cães, passava a ferro muito depressa, mantinha as plantas de casa bonitas, fazia as camas impecavelmente e, às vezes, de manhã ou ao final do dia, surpreendia com um bolo. Inesperado e sem razões. Quando hoje, pela manhã cedo, me apeteceu pôr um bolo no forno só porque sim e a casa se perfumou do cheiro bom que vinha dali, não pude evitar lembrar-me da Rosa.
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