A minha Dona G.

Acho que a minha Dona G. anda um bocadinho desiludida comigo. Hoje, quando entrei em casa, não foi esfuziante como de outras vezes e continuou, muito murcha, a limpar o pó. Depois eu disse-lhe que ia ao quarto e ela disse "tem aí muita roupa para arrumar" e caiu-me a ficha. A minha Dona G., como é normal, gosta mais das semanas em que me dá no génio adiantar-lhe serviço e passar a roupa a ferro, deixando-lhe só o resto da lida doméstica. Ora, ultimamente, para além de não lha passar, muitas vezes nem lha deixo apanhada, tudo ainda no estendal, ali junto à janela da cozinha. Acredito que lhe faça uma certa espécie. Logo a ela, que andou a apregoar os meus dotes de doméstica e me tomou de exemplo por lhe deixar "sempre o trabalho tão orientado", com lista de prioridades e produtos novos a experimentar. Deve ser difícil, perceber assim, do pé para a mão, que às vezes sou como as outras e, armada em pessoa com pressa, nem lavo a louça do pequeno almoço. Caiu-lhe o mito, bolas... há que entender-lhe o desalento!