Em 2006, com um dos meus primeiros ordenados da Faculdade e ainda a ajuda da minha mãe, comprei uma renda. Comprei a renda toda. Altura e comprimento. Não sabia exactamente o que faria com ela, mas ia a passear pela Baixa de Coimbra quando me apaixonei. Perdidamente. Era do mais princesa que havia, não estava no meu horizonte festa nenhuma em que pudesse usá-la e a verdade é que deixei o tecido, embrulhado em papel de seda, algum tempo, arrumadinho, numa caixa, em casa dos meus pais. A dada altura, decidi que queria fazer um vestido. E fiz. Depois de alguns contratempos e pilhas de nervos na escolha de quem poderia pegar naquele meu tesouro, encontrei nas mãos da modista mais cuidadosa do mundo o detalhe infinito que aquela renda merecia. Tenho, desde essa altura, um daqueles vestidos de uma vida. Corte império, abaixo do joelho, decote em V, manga pelo cotovelo, enfim. Usei-o, desde essa altura, quatro vezes. Em quatro casamentos. Sempre com acessórios diferentes e, claro, sapatos diferentes. Mas sentia, sei lá eu bem porquê, que me faltava viver um dia bem mais especial com ele. Na semana passada, quando soube que o M., irmão da minha S., amor adolescente, companheiro de horas tão alegres como os pic nics nas dunas da Vagueira e de horas tão tristes como as da perda de uma mãe, ia casar, soube, sem margem para qualquer dúvida, que posso ter de me preocupar, até 7 de Setembro, com muita coisa, mas não com o vestido. Cumpre-se, sete anos depois, a história que quis viver, ainda sem o saber, quando, naquele passeio, me apaixonei por um tecido. Vou a este casamento de mão dada com o amor. Não podia ir de outra maneira. Há vestidos de uma vida. São os que ganham ainda mais sentido quando testemunham momentos felizes. E dia 7 de Setembro, se Deus quiser, será um dia muito, muito feliz.
Sem comentários:
Enviar um comentário