Enquanto assistia às imagens do descarrilamento em Espanha, percebia, mais uma vez, que a vida, aqui tão perto, aqui tão presente, agora tão certa, pode, de um momento para o outro, puff, sumir. Ir embora, quando se gosta disto, é profundamente triste e, devo confessar-vos, para mim, até injusto. A aleatoriedade da morte, como fava que calha indiscriminadamente a novos e velhos, felizes e angustiados, boas e más pessoas, continua, quase 32 anos volvidos, a ser um dos mistérios que mais me assusta. Ouço, com um deslumbre infantil, os relatos de quem não tem medo de seguir viagem. Apequeno-me sempre na expectativa de ter percebido o grão de areia que somos todos quando, nessas alturas, ainda que o guarde só para mim, sei bem, o meu desejo é ficar, permanecer, dar a volta por cima, conhecer as horas más, eu sei, tem de ser, mas encontrar, no balanço final dos meus dias, sempre razões suficientes para querer acordar amanhã e seguir adiante, em utopia crescente da meta feliz. Estar apaixonada, com este sentimento docinho alojado no peito, faz-me agarrar ainda com uma força maior a isto, ao lado de cá. Os meus de saúde, superação quotidiana dos percalços da vida, a oportunidade repetida tantas vezes, tantas, de os tocar, de os cheirar, de os ver, de viver com eles, estupidifica a ínfima possibilidade de me sumirem ou de eu lhes sumir. Por isso é que o descarrilamento de Espanha me doeu profundamente, mesmo não conhecendo ninguém. Choro os sonhos por cumprir, as palavras por dizer e os abraços por dar de cada um dos que deixou para um amanhã que não lhe aconteceu a hora que julgou mais certa para ser feliz. É muito, muito triste.
Moral da história: quando se trata de ser feliz não devemos deixar para amanhã. Beijinhos :);)
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