Confesso, e fica já isso claro, que me rendo, que gosto muito, que me sinto absolutamente fascinada por alguém capaz de me adivinhar a fome de palavras bonitas. Posto isto, dou por abertas as hostilidades. Ao longo destes quase, quase, 30 anos de vida, já houve mais do que um homem com a capacidade de me surpreender com um livro de poesia, de que reconhecia gostar de um ou outro poema, sossegando-me a alma de que aquilo não era só jogo de vista e havia ali margem para o romance poético. Acho que, embora já devidamente caída por uma alminha, lhe reconheci, um certo dia, a possibilidade de ser o homem da minha vida quando, no bar da faculdade, me disse, ao ouvido, um poema inteirinho. Um homem que, para além de gostar de poemas, de saber lê-los, escolhê-los, dedicá-los, os sabe de cor, pode prender-me para a vida. Foi mais ou menos isso que julguei ter acontecido naquele dia. O tempo, a vida, vieram a provar-me que não. Mais recentemente, encontrei (fui encontrada?! já não me lembro de quem encontrou quem...) alguém que, vejam bem, não só apreciava a poesia como teve a generosidade de me acordar algumas vezes com os bons dias em forma de poema e, certa noite, chegou mesmo a fazer um poema só para mim. Mais uma vez, pequena R. em modo "ai que as pernas se me falecem já aqui :)". Não obstante isto tudo, descobri com certo gosto que no Mundo nem todos podemos gostar do azul. Na sequência, seguramente, disso, há quem não goste deste estilo que chegam a rotular de delicodoce. Ouvi, a certa altura, uma amiga, sentada aqui na sala, entre um gole de chá e um húngaro do Moinho, dizer "Então e tu não viste logo que isso não ia dar em nada?! Mas como é que tu cais nessa cantiga, pequena R.?! Poemas?! Os homens não se querem a mandar poemas. Eles querem-se a pegar em nós e a agir. Agora poemas... poemas... Ai, sinceramente, só tu, rapariga.". Pensei nisto muitas vezes e cheguei, a determinada altura, a convencer-me que um homem assim, como aqueles a quem me rendi, padecia de um grande mal poético, digno de integrar o meu vasto rol de clic off. Hoje, quando vi um poema enviado a uma amiga, percebi que nem sempre um poema sai da boca ou da pena de um homem com a nobreza de quem está prestes a oferecer magia, delicadeza, uma subtil declaração de amor, de seriedade, de "fica comigo porque te quero bem". Hoje percebi que os homens que oferecem poesia também podem ser dos maus. E isso faz-me uma confusão diabólica. Porque, vá-se lá entender isto, há dias em que acordo e, contente por já não me apetecer chorar pelos cantos dias a fio, sinto uma saudade tremenda de um poema só para mim.
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