segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um misto de prazer e agonia

Estive em Espanha sob a orientação de uma pessoa doutorada na área em que estou a fazer a tese (em que vou fazer, pronto, um dia, no futuro, assim haja vida e saúde, como se costuma dizer). A pessoa nunca me tinha visto na vida. Foi incansável. Hoje, assim sem quê nem porquê, abro o mail e tenho catorze documentos que ela acha importantes e que se lembrou de me enviar (artigos com quase cem páginas, jurisprudência controvertida, reflexões críticas ainda embrionárias, eu sei lá). Gente assim na nossa vida, na nossa vida profissional, dá-nos a certeza de que isto ainda não virou completamente uma selva. Não anda longe, mas ainda vai tendo momentos de solidariedade impressionantes. Por outro lado, deposita-nos sobre os ombros ainda mais um bocadinho de responsabilidade por não desiludir, por fazer bem, por fazer o melhor possível. E eu, que ando muito em maré de me pôr em causa e duvidar se algum dia a dita obra dará à costa, fico a um tempo embevecida e por uma temporada valente com uma angústia indescritível. 

Recuso-me, completamente, a hipotecar a minha vida por causa de uma tese. Não é para mim. Não pode ser. Recuso-me. É um exercício diário de resistência. Preciso de gente, muito mais que de papéis. Preciso de mimos, muito mais que de títulos. Quero fazer isto. Quero acabar isto. Mas não quero, de todo, que isto acabe comigo tal como sou. No fundo, acho que é isso. E que tão difícil é continuar sem perder o rumo, sem inverter os essenciais, sem me deixar ir. 

4 comentários:

  1. Sinto-me da mesma maneira mas em sentidos opostos.
    Eu quero muito entrar na faculdade,quero mesmo e vou lutar por isso.
    E confesso,estou disposta a tudo para prescindir da minha vida famíliar para o fazer se tiver que ser,eu farei,já decisti de muita coisa por causa de pessoas que não mereciam as minhas lágrimas.

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  2. e que tal um convívio misto entre pessoas e papéis?

    partilhar com outra pessoa alguns papéis também não me parece mal. E se pedires aquela pessoa que tu saberás bem quem será que te ajude a organizar papéis?

    Estou a tentar um misto de humor e alento para a tua situação. Mas eu não sou ninguém para dar conselhos a uma mulher de leis que me pareces ser tu. :D

    Agora, fora de brincadeiras, se calhar tens de tentar o meio termo para as coisas, talvez...as pessoas fazem-te falta, os papéis (ou os que resultam deles), preenchem-te.

    Boa semana

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  3. Minha querida R.,

    O universo devolve-nos tudo o que damos, às pessoas... à vida. Esse email é, tão só, resposta à sua forma de estar, à delicadeza com que trata os outros, ao amor que coloca nas coisas que faz, à disponibilidade, ao empenho. Recebemos na medida do que damos! Merece! :)

    Não duvide, nunca, da sua força. Vai conseguir alcançar o objectivo sem perder a essência. Por mais penosa que a estrada possa parecer, vai compensar o esforço.

    Gosto muito de si!
    CM

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  4. Não estás só, partilho da tua agonia... :)

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