O Eurogrupo admite que a solução encontrada para o Chipre pode replicar-se. Não gosto de ser alarmista, mas não me espantaria muito que a primeira réplica se desse por cá. Somos muito proactivos na imitação do que está mal feito. No Chipre, os depósitos superiores a €100,000 verão retidos 30% extraordinariamente e por conta da situação financeira do país. A situação financeira do país não é pior que a nossa, estou em crer. Portanto, o que me passa pela cabeça, como pensamento mau que tento enxotar para longe, é que o tecto da protecção garantida sofra um abaixamento no nosso caso. Não falo por mim, que tenho poupanças residuais. Tenho 31 anos e, embora trabalhe há nove, nunca estive isenta de estágios não remunerados, muitos recibos verdes, bolsas pequeninas e ordenados pouco expressivos. Tenho, como a grande maioria das pessoas da minha geração, conseguido equilibrar um nível de vida satisfatório com a acumulação de vários empregos, um esforço desmedido em não perder oportunidades e a sorte imensa de, nas horas de maior aflição, ainda conseguir contar com a ajuda dos meus pais para o essencial. Não somos ricos. E o que temos é fruto do trabalho de um empresário de uma PME que viu a vida virar-se do avesso aos 54 anos e começou de novo e de uma funcionária pública que, feitas as contas, ganha, neste momento, menos que há dez anos. Temos casa própria. Mais que uma, até. Cada um de nós tem um carro, o meu irmão frequenta uma universidade privada (por opção, atendendo ao curso) com uma propina milionária (literalmente milionária), conseguimos manter alguns prazeres, como viajar de vez em quando, passar uns dias com vida de hotel, ir ao teatro, ao cinema, jantar fora, comprar livros e escolher uma ou outra peça por colecção. Vemos estes prazeres tornar-se cada vez mais difíceis de manter, mas vamos resistindo a tomar parte na carneirada em que querem transformar-nos a todos, seguidistas impropriamente gratos por ainda viverem, como se nem disso fossem, per se, dignos titulares. Estamos exaustos. E se nós estamos exaustos, muitos, muitos, muitos portugueses estarão exaustos. No meu caso, sinto-me num barco à deriva, no meio de uma tempestade, com um flautista amador armado em capitão. Um triste, a quem fomos dando um desconto à conta de não o mandarmos à merda por claro e enervar ainda mais o resto dos passageiros. Mas agora que o casco se furou, que água entrou e que andamos todos de baldes na mão a ver se salvamos a pele, flautistas amadores armados em capitão dão-nos ganas de violência grosseira. Passam-nos pela vista apetecíveis imagens de espancamento e estamos quase quase a perder toda a paciência. Dizerem que pretendem ficar-nos com a meia dúzia de pertences que a custo protegemos nos camarotes pode muito bem ser o pretexto que nos faltava para começar a atirar gente borda fora. O Eurogrupo errou tanto neste cálculo. Até eu, com o meu pequenino e imerecido 15 a fiscal, consigo perceber o disparate imenso que é esta declaração. Há dias em que tenho vontade de me sentar num canto a chorar sem parar a agonia do meu país...
Olha, eu já não quero saber deles para nada. Não tarda nada meto o dinheiro todo debaixo do colchão!
ResponderEliminarO que me espanta é o facto dos Russos em parte "pirmitirem" este tipo de coisa. Tudo porque estamos a falar do país da U.E. onde existem mais depósitos. Reza 8e bem rezada) a lenda de que a maioria dos investimentos russos ali feitos envolvem drogas, armas, lavagem de dinheiro e tráfico de pessoas.
ResponderEliminarO estranho de isto tudo é que ainda ninguém falou: com isto tudo, vão conseguir arranjar os tais 10.000.000.000 de euros necessários. Mas alguém já analisou que este valor, é o equivalente a 10% dos valores depositados nos Bancos Cipriotas?! Sim é isso mesmo. Existem de momento, em depósitos e outros tipos de obrigações, 100.000.000.000€ numa banca menos fragilizada que a portuguesa.