Fomos colegas de curso. Desdobrava-se em atenções. Demorei a perceber porquê. Depois lá vi que gostava mais de mim que eu dele. Não era só gostar de maneira diferente, era gostar mesmo mais. Há pessoas de quem não conseguimos gostar tudo. Podemos até gostar muito, mas tudo, tudo não conseguimos, nem para as elegermos essenciais na nossa vida. Com o Francisco aconteceu exactamente isso. Não é por nada, nunca fez nada que pudesse destituí-lo de qualquer lugar cimeiro na minha pirâmide de eleitos, mas a verdade é que... nunca consegui sequer levá-lo ao cimo das minhas eleições. Quando finalmente percebi o que aquilo queria dizer, já ele me enviava umas cartas um bocado óbvias. Não havia muito como não perceber. Tenho pouco jeito para lidar com isto. Tenho menos jeito para lidar com isto do que com a situação inversa, de gostar mais do que gostam de mim. Afastei-me. Devagar (não muito, concedo), afastei-me. Nunca ligo, nunca escrevo. Para ser franca, nunca sequer me lembro. Depois chega o meu aniversário, chega o Natal, chega o Ano Novo, e o Francisco descobre-me sempre não sei como e escreve-me sempre cartas um bocado óbvias (desta feita, um mail, para ser mais precisa). E eu não gosto daquilo. Não gosto que se lembre de mim. Mesmo. Mesmo. Não me afaga sequer o ego. Recebo aquilo, assinado precedido por um não menos óbvio "Admirador de sempre" e fico para ali a pensar se respondo ou ignoro. Respondo passados oito dias, em três linhas. Agradeço-lhe, desejo-lhe bom ano e acalento secretamente a esperança que não se repita. Odeio este papel na vida de outra pessoa. Odeio. Não sei como é que há gente que se diverte com isto. Não sei. Não tem piada rigorosamente nenhuma.
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