quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Ao ouvido

      Naquele pic-nic de burguesas, 
      Houve uma coisa simplesmente bela, 
      E que, sem ter história nem grandezas, 
      Em todo o caso dava uma aguarela.

      Foi quando tu, descendo do burrico, 
      Foste colher, sem imposturas tolas, 
      A um granzoal azul de grão-de-bico 
      Um ramalhete rubro de papoulas.

      Pouco depois, em cima duns penhascos, 
      Nós acampámos, inda o Sol se via; 
      E houve talhadas de melão, damascos, 
      E pão-de-ló molhado em malvasia.

      Mas, todo púrpuro a sair da renda 
      Dos teus dois seios como duas rolas, 
      Era o supremo encanto da merenda 
      O ramalhete rubro das papoulas!


      De tarde, Cesário Verde

2 comentários:

  1. Talvez dos que me deu mais gozo de ler nas aulas do secundário. Como era tótó, apesar de já ligar muito aos livros, só comecei a ler poesia e coisas mais sérias agora :P

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    1. Eu gosto muito de poesia, muito, muito. Tenho um prazer imenso quando ando com a neura e páro dez minutos, pego num livro de poesia numa mão e num chá quente na outra e, em silêncio, me ponho a ler :)

      Este... dito ao ouvido... fica mais especial :)

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