É tudo tão frágil. Assustadoramente frágil. Sedutoramente frágil. Hoje tive um funeral. Um homem novíssimo, com os hábitos mais saudáveis do mundo e ainda tanto para viver. Deixa dois filhos crescidos por fora mas tão meninos para o perderem. A bem dizer, acho que nunca crescemos suficientemente para que possamos dizer que um pai, ou uma mãe, não nos são absoluta e incomparavelmente essenciais na vida. Deixa uma mulher tão jovem, com tantos planos que se desmoronam com o momento em que o coração do seu amor de sempre simplesmente, a meio do sono, parou. Assim. Parou. Deixa uma mãe despedaçada, que não deve haver mistério maior no mundo para uma mãe que a dor lancinante de perder um filho. E depois hoje soube de um bebé a caminho... assim a crescer devagarinho na barriga de uma amiga que vejo pouco mas de que gosto muito. Hoje, à mesma hora, neste mesmo mundo em que vivemos todos, morreu gente e nasceu gente. Hoje, à mesma hora, neste mesmo mundo em que vivemos todos, casais separaram-se e pessoas foram pedidas em casamento. Como sempre, também hoje, certamente, à mesma hora, neste mesmo mundo em que vivemos todos, houve quem entrasse e quem saísse da vida de alguém que um dia já lhe esteve tão perto. É assim a vida. Tão frágil. Custoso, isto... E, simultaneamente, tão mágico. Como engrenagem completa ensinada pelas melhores lições... sabendo bem que em lado nenhum cabe a noção de tudo. Nem no mundo, obrigado a desfazer-se, uma e outra vez, de alguém, para que vague lugar a quem chega. Nem em nós, acumuladores portáteis de calor humano, que a tempos, explique lá melhor quem souber, vêem a vida toldar-lhes as certezas todinhas e levar-lhes do aconchego da alma, mais que os mortos, vivos. Para que outros cheguem. Como a engrenagem perfeita, mas esta tão melhor ainda, em que tem de conhecer-se o muito para que se descubra o melhor de tudo.
O nosso mundo é assim. Diria que implacável.
ResponderEliminarEste é um texto mágico...faz com que eu me torne uma pessoa melhor depois de o ler...és sem dúvida especial, R.! Mas isso já muitos sabemos...;)
ResponderEliminarNem por sombras, Cátia. Não te iludas. Beijinhos*
EliminarLido bem perto da vida e da morte, e esse ciclo da vida nunca deixa de me maravilhar. O corpo humano é um equilibrio dinâmico, complexo e belo. Mas acaba por falhar... somos todos feitos da mesma matéria, colorida por sentimentos. Já vi morrer, e também vi nascer. A fragilidade inerente a esses processos deve motivar-nos a sentir o sabor da vida, sentir que podemos dar um abraço a quem está ao nosso lado, sentir o calor do sol, ou a chuva... sentir.
ResponderEliminarÉ o nosso ciclo... ... adorei o que li, obrigada pela partilha.
ResponderEliminarA perda doí, muito mesmo, e nunca é compensada (nunca percebi porquê?!?!) pelas alegrias posteriores.
Beijos do norte hoje com sol, calor e muita luz depois de um dia invernoso, pavoroso e medonho.
Depois da tempestade vem, sempre?!?!, a bonança... ... ...
Que texto triste. Triste porque me faz pensar que se eu perdesse o meu homem, e se por um mero acaso até já tivessemos filhos, não sei o que faria da minha vida. não sei mesmo... são tantos os planos e é tanta a cumplicidade que não sei o que faria mesmo. Lembro-me de em filosofia no 10º ano dar os "estados-limite" (da humanidade?), e recordo-me que fiquei a moer aquela informação. "desejo de não continuar a espécie por medo da morte";"desejo de não continuar a espécie não acreditar que a sociedade melhore", "desejo de "..." por medo de privações essenciais-comida,acolhimento"; e eram mais outras duas. E de facto cada vez mais se torna uma opção "válida".E, por outro lado, ver crescer um filho e cuidar dele, deve ser algo de maravilhoso, Mas, "mas" é um risco sim.
ResponderEliminarMais um texto brilhante! Na vida e na morte, o amor, sempre o amor!
ResponderEliminarMónica