Fiz agora a meia hora de carro que fiz quase todos os dias, duas vezes por dia, ao longo de cinco anos. Só deixei de fazer aquele caminho quando, numa fase em que acumulava aulas em dois sítios e ainda outro trabalho, saía de Coimbra muitas vezes à meia noite e tinha de cá estar às oito da manhã do dia seguinte, ocupando grande parte da noite com trabalho. Foi isso que me levou, um dia, a adormecer ao volante numa fila das sete e pouco da manhã e a acordar com o carro de trás a apitar violentamente, segundos antes de me enfaixar num camião. Tomei a decisão de voltar a viver cá nesse dia. E não me arrependo. Nada. Não há soluções perfeitas, mas a vista da minha varanda faz-me acreditar que esta anda lá perto. De todo o modo, tenho saudades de muitas coisas. Uma delas, de que tenho uma saudade enorme, é do ritual em que melhor me organizo mentalmente: ao volante, sozinha, com a música aos berros. Descobri soluções para problemas, chorei momentos menos bons e cantei até me doer a voz durante essas viagens. E às vezes tenho saudades. Apetece-me pegar no carro e andar por aí com a música aos berros e a pensar na vida. Mas o meu carro não anda a festinhas e água da fonte e vou evitando dar mais este ar de não estar boa... Melhor do que conduzir sozinha, só mesmo ocupar o lugar de pendura com alguém que conduza com garra e, simultaneamente, segurança. O homem a dominar a máquina, em vez de a máquina dominar o homem, capisci?! Isso, então, é mesmo bom. Não preciso de me preocupar com a condução e vou a apreciar a paisagem e posso mudar o rádio e tudo e tudo e tudo. É o melhor dos dois mundos. Se a pessoa andar com a música aos berros e de vez em quando aceitar cantar, então... rendo-me. Para ser perfeito, perfeito, só falta mesmo não ter de me manter acordada se, na viagem, me apetecer passar pelas brasas.
Eu detesto que durmam ao meu lado se for a conduzir, mas gosto muito que optem por não me ver mal humorada se sou eu quem decide dormir ao lado do condutor. Sou má, eu sei!
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