De há uns tempos para cá, fui conquistando alguns hábitos que julguei para sempre arredados da minha vida de solteira a viver sozinha. Tinha ali no frigorífico um bife grelhado. Noutras alturas, teria aquecido o bife, teria metido o bife dentro de um pão e teria comido o pão com bife sentada no sofá, a fingir que fazia um intervalo no que estava a fazer. Agora não. Hoje não. Peguei no bife e aqueci-o, é uma verdade. Mas, no entretanto, pus a cafeteira eléctrica a aquecer e despejei um bocadinho de massa, um fio de azeite e uma pitada de sal num tacho com a água a ferver. Enquanto a massa cozeu, fui à varanda e estendi a máquina de roupa que tinha posto a lavar quando cheguei a casa. Escorri a massa e pu-la numa taça. Usei o mesmo tacho, juntei mais um fio de azeite, uma pitada de sal e um bocadinho de pimenta preta e cortei um pedacito de cebola em pedacinhos pequeninos. Enquanto isto apurava, cortei um tomate pequeno em pedacinhos também pequenos e juntei tudo. Alternadamente, mexia o molho de tomate a fazer e cortava o bife em quadradinhos. Peguei na varinha e reduzi o preparado a verdadeiro molho de tomate. Depois, peguei num punhado de espinafres e juntei-os ao molho. Mexi um minutinho e apaguei o fogão. Na taça da massa, misturei o bife. Depois, despejei molho. Pus a mesa rapidamente e sentei-me a jantar. Com a janela aberta e as luzes no céu e na terra. Calmamente. Quando acabei, tapei o que sobrou na taça. Arrumei a mesa. Enquanto lavava a louça, a cafeteira eléctrica aquecia mais água. Com tudo arrumado, despejei a água numa caneca bem grande e juntei-lhe chá solúvel de romã. Fui tomar banho. Besuntei-me com creme. Vesti o pijama. Vim para a sala. Desliguei a música instrumental que ainda soava na aparelhagem e sentei-me. Estou a beber o chá e a escrever. Admirada comigo. Ainda ontem me sentia a caganeta do cão zarolho e coxo e hoje dá-me para isto. Daqui a pouco, volto ao trabalho. Ele há dias...
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