sexta-feira, 14 de março de 2014

Eu, mulher a dias, me confesso!


Acaba uma amiga de ligar a perguntar se não quero ir tomar café. Interromper o trabalho e ir tomar café. Ia de boa vontade, respondi-lhe, mas ando na lide e imprópria para sair à rua. O cabelo está uma miséria, o verniz já está a lascar, ando descalça e o pijama vai direitinho para lavar assim que eu própria puder ir tomar um banho. Ninguém entende. Pelo menos estes meus amigos, não entendem. E continuam a insistir que perco tempo, que devia ter alguém que me viesse cá limpar, que mimimi e mimimi. Já tive. Toda a gente se lembra, por certo, da minha Dona G. Do sofrimento que foi para decidir-me a contratá-la e do que padeci para a mandar embora sem parecer uma cadela com raiva. É verdade que nem todas as semanas arredo móveis e que na minha casa o pó se acumula como em nenhuma outra que conheço, mas eu cá sei de mim e cá me organizo o melhor que posso para o Texas não assentar arraiais nesta casa. Lembro-me bem que ter empregada não me desonerava de andar atrás dela a pôr as coisas no sítio em que acho melhor e, pior que tudo, do desconsolo que me dava quando não me trilhava bem os lençóis, me passava panos da loiça ainda com nódoas de fruta, me arrumava collants com furos e me deixava a escova a babar cabelos. Não. Há semanas em que este tempo me faz muita falta, de facto. Aliás, normalmente, este tempo faz-me mesmo muita falta, mas continuo a preferir o sossego de saber com o que conto à quebreira de cabeça de ter aquele tipo de surpresas. Desde que me lembro que há empregada em casa dos meus pais, mas também desde que me lembro que as limpezas a fundo são comandadas, não por ela, mas pela minha mãe ou por mim. Tirando a Rosa, que de facto era uma doméstica ímpar, nunca conheci ninguém que limpasse as casas dos outros como os outros poderiam limpá-las. Talvez chegue o dia em que volte a render-me. Mas também sei que o aperto dos castings e o que vou andar em cima da criatura me transformarão no pesadelo de qualquer doméstica. Sou niquenta. Sou, definitivamente, muito niquenta. Mas deixai-me andar. Pior mal é meu, que lixo as costas à conta de tantas avarias...

3 comentários:

  1. Mulher, como te entendo! Tenho a mãe e o marido a azucrinar-me o juízo para contratar uma empregada de limpeza para cá vir "dar um jeito" uma vez por semana. Olha, dar um jeito eu ainda vou conseguindo, mesmo que umas semanas fique pior que outras, eu é que sei o que precisa mais de ser limpo, não me apetece cá meter gente em casa que nunca vi na vida, não que tenha coisas de grande valor monetário, que não há, mas ter alguém em casa é sempre aquela chatice que não me apetece suportar. Além disso sou uma forreta (sim, confesso) e acho sempre que o dinheiro que pagaria a uma empregada ao fim do ano dá para ir aqui ou ali passear ou ver este ou aquele espectáculo. Enfim, tudo isto para te mostrar a minha solidariedade e compreensão :D Bom fim de semana!!

    ResponderEliminar
  2. Eu teria muitas dificuldades em viver sem a "minha D. Rosa"

    ResponderEliminar
  3. Mas que amiga tão desencaminhadora tu tens;):)

    ResponderEliminar