Não há nada a fazer. Por muito que me esforce, o meu carro é um triste nas minhas mãos. Costumo atestá-lo com gasóleo e mandá-lo limpar quando já se parece mais com o Texas do que com um carro. De resto, é dar à chave e andar. Não sei pôr o óleo, nunca lhe vi a água e acabo de constatar, mais uma vez, que se não fosse o meu rico paizinho, podia bem andar sem seguro que estava nem aí. Nunca me ocorre a data de pagar o seguro, o sêlo, de o levar à revisão ou de lhe fazer a inspecção. Em rigor, nunca o levei à inspecção. Deposito-o na oficina na semana em que alguém mais atento que eu me diz que a coisa tem mesmo de suceder e deixo-o nas mãos do mecânico para tratar de tudo. O óleo, salvo se se puser alguma luz a piscar ou aquilo der para aquecer a ponto de se poderem estrelar ovos no tejadilho, também não é bem assunto que eu cá domine. Já na casa, muito diversamente, é raro e até estranho que me apanhem desprevenida com falhas graves na despensa ou que ao limpar a casa de banho não tenha um novo wc pato para a recarga. Não me lembro de algum dia ter deixado acabar detergentes ou ter descurado mais que o absolutamente necessário a limpeza ou organização de gavetas. No outro dia, não comprei pão e andei a consumir-me de culpas quase uma semana. Só não me pus a amassar pão caseiro às duas da manhã porque o meu homem achou que não era morte de gente um dia comermos pães de leite e tostas ao pequeno almoço (sim, não havia pão, mas havia outras coisas... mas pronto... pão é pão). Acaba de me ligar o meu pai. Diz que fico amanhã sem seguro. Diz que já tratou de tudo e que me faz cá chegar o papel não tarda. Eu, rendida e agradecida, penso muito com os meus botões. Se algum dia, por casar, meu rico pai se desonera do carro, tem de caber, por força de todas e mais que muitas razões, ao meu homem pegar neste assunto. Ou não ganharei para multas. E sustos. Eu compro-lhe o pão, ele poupa-me à bófia.
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