sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Eu não sou má... eu sou educada!

Há coisas que os meus alunos não fazem e a que, por via disso, não me habituei. Os meus alunos não comem nas aulas. Pronto. Não comem. Comem nos intervalos, mas por acaso não vão manducar sandes de courato para a sala de aula. Os meus alunos também não cochicham durante as aulas. Falam quando têm dúvidas, quando são interpelados e quando os divido em grupos para pensarem num caso prático ou numa questão de fundo, mas, de resto, estão calados. Faço um aviso na primeira aula. Costumo dizer que sou como o padre da minha freguesia e que se há coisa que não consigo fazer é falar quando mais gente está a falar. Aquilo incomoda-me. Muito. Vou ameaçando a malta que posso ficar ruim de aturar se não me fizerem essa vontadinha de estarem calados... e eles vão cumprindo. Em regra, ou me sento e me calo ou os envergonho diante dos colegas todos, perguntando se a mensagem que estão a enviar é para tirar o pai da forca ou se o assunto que não podem adiar dizer ao colega do lado é uma confissão amorosa. Tem resultado. Os meus alunos não saem da aula para fumar ou esticar as pernas. Vai daí, quando me pedem para dar aulas de mestrado a médicos e enfermeiros e o diabo a sete, parto do princípio que, pelo menos, se hão-de comportar como os meus alunos da licenciatura. Mas não. Ele é vê-los beber iogurtes, ele é vê-los desembrulhar pães, ele é ouvi-los roer maçãs, ele é ter de, de cinco em cinco minutos, perguntar se há dúvidas lá atrás, ali do lado da janela ou naquele grupo da senhora de cor de laranja ou do senhor de fato castanho. Fui enchendo meu saco, como diria uma amiga brasileira. Enchi-o até cima, cheia de maneiras. Mas as alarvidades não paravam. Por isso, enfim, investida de todos os meus conhecimentos de filha de professora primária e de toda a minha experiência de irmã mais velha, mandei-lhes um berro. Foi um senhor berro. E foi remédio santo. Agora vão fazer queixas ao pai, se quiserem. Arre... 

2 comentários:

  1. Essa herança de ser filha de professora primária é impagável, corre-me nas veias também essa genética adquirida e se a fama de má me persegue (ou "generala" como diriam uns e outros), o respeito (ou será medo?) que por mim têm faz-me sorrir entre dentes quando viro costas depois de um berro ou de uma resposta mais assertiva!

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  2. sei que enquanto aluna nem sempre consigo estar calada e atenta, por isso quando não me sinto capaz de estar sei lá quantas horas fechada numa sala a ouvir uma coisa que nem sequer me interessa, simplesmente não vou. Por respeito. Acho que é preferível não aparecer do que passar a aula a incomodar os meus colegas e os professores. Não tenho paciência para faltas de educação, não as tolero quando é comigo, por isso também não vou ser mal educada para os outros. Quando estou numa aula, estou na aula. Posso estar a pensar na morte do burro de vez em quando (às vezes acontece) mas ao menos estou calada e sossegada, não vou para lá cochichar nem comer nem o diabo a 7, como vejo colegas fazerem. E acho ridículo que seja preciso um professor chamar a atenção de pessoas que são maiores de idade e que estão no ensino superior porque querem.

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