sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Do fogo

Não falo do fogo. Nem dos bombeiros que morreram. Não falo do barulho das sirenes. Nem deste céu cinzento aqui de frente. Não falo. Para quem tem uma casa rodeada de pinhal, não é fácil falar do fogo. Quando o fogo é falado, calo-me caladinha e peço com força que chegue o Inverno, o frio, o orvalho da manhã e o cacimbar da noite. Não falo do fogo. Odeio-o demais para conseguir falar dele. Não falo do fogo. Não falo dos incendiários. Não falo deles porque me obrigam a estupidificar. Não comento o fogo posto. Não posso. Pediria que atassem pedras pesadas às pernas de quem ateia os fogos... para que, atirados ao mar, não pudessem mais de lá sair. Não falo disso porque me apercebo como sei ser má e vingativa. Prefiro não me tentar. Posso não ter coragem de fazer mais nada e desatar só a chorar. Não falo do fogo. Lamento muito. É isso. Lamento. Muito.

1 comentário:

  1. Também lamento tudo isso, muito muito!

    Só não desato a chorar porque me quero fazer de forte, par não ser mais um peso a quem já lhe pesa o combate dos incêndios e cuidar de quem leva para ajudar.

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