sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Da Síria, sem esperança

Faz hoje chamamento capa em vários jornais online o facto de ter sido atingido o brutal número de um milhão de crianças sírias refugiadas. Por criança, para o efeito, desconsidera-se a noção assente nos diplomas internacionais e assume-se que que se trata apenas de menores de 11 anos. Inevitavelmente, sou obrigada a questionar-me quantas, afinal, são as crianças sírias arrancadas à sua família, à sua casa, à sua escola, aos seus amigos, ao seu país... como derradeira investida de sobrevivência. Não consigo, por mais que tente, racionalizar os acontecimentos descritos nos últimos dias. Independentemente das questões políticas e estratégicas associadas, custa-me que uma organização como as Nações Unidas, no seu conjunto, seja conivente com o arrastar de uma situação no mínimo dúbia. Não sei se houve efectivamente ataques com armas químicas, mas parece-me absolutamente essencial que, pelo menos a título cautelar, se assuma isso como francamente provável. Há factos. Este número divulgado hoje, mal julgado no critério, como já disse, de não considerar criança todo o ser humano com menos de 18 anos, não pode ser despiciendo na análise mundial do conflito sírio. Juro-vos que esta é uma daquelas coisas que nunca conseguirei aceitar de ânimo leve: a arbitrariedade das oportunidades de vida de uma pessoa, a altamente improvável hipótese de se vingar numa vida serena quando se calha na triste sorte de nascer em determinado sítio. Assim, como a negarem a quem nasce, logo à cabeça, uma percentagem gigante de hipótese de poder viver em paz. A aleatoriedade da seta traiçoeira do destino de quem fica doente, de quem padece num acidente rodoviário, etc, surpreende-me, mas esta, de se nascer praticamente condenado à suprema infelicidade de não poder viver em paz, quase me envergonha sempre que me lembro de fazer queixinhas. Que tristeza.

Sem comentários:

Enviar um comentário