N.: Estás com o nariz torto.
G.: Eu?!
N.: Sim, tu, pá. Agora, de repente, ficaste com o nariz torto.
G., virando-se para mim, apreensivo: Eu tenho o nariz torto?
Eu, controlando-me como podia para não me desmanchar a rir: Não...
G.: Olha bem.
Eu: Vá, talvez um bocadinho. Parece mais inclinado para este lado.
N.: E aos 32 anos precisas que seja eu a descobrir que tens o nariz torto.
G., repetindo, incrédulo: Eu tenho o nariz torto? Eu? O nariz torto?
N., sem paciência: Tens, pá. Um bocado torto. Nota-se bem.
Eu: Cala-te. Tu também tens o nariz torto. Muito mais torto que o dele, até.
N., reagindo ao confronto: Pois tenho. Mas eu sempre soube. Sempre soube que tinha o nariz torto.
Silêncio.
Continuamos a lanchar, cada um mais ensimesmado que o outro.
Ambos: Tu se calhar também podias ajudar um bocadinho ao ambiente e dizer que tens o nariz torto.
Eu: Não, torto não tenho.
Ambos: Deves ter a mania, tu.
Eu: Torto, não. Mas o meu pai garante que as narinas não são exactamente iguais. Desde que eu nasci que me assinala este defeito. Mais ninguém o vê, mas ele garante que existe.
N.: Então temos todos o nariz torto.
G.: Não. Ela não tem. E eu também não tinha. Se calhar isto passa. Tu sim, de ti pode dizer-se "Tem o nariz torto".
Uma conversa com um grande nível. Mas antes ter um nariz torto do que empinado :)
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