Não tinha nada que esperar o que quer que seja do homem, mas a verdade é que esperava outra coisa. Esperava silêncio. Tenho-o por inteligente. Sempre acreditei na sua competência. E isso bastava-me. Agora, deu-me demasiada informação. Mostrou-me um certo complexo de inferioridade por ter sido o "Saloio do Mação". Da imagem que tinha feito dele, esperava que a alcunha o orgulhasse. Sucede que esses orgulhos são visíveis no que se cala. Repristinar à toa uma coisa assim soa a bacoco. Pode ter-lhe apetecido dar uma chapada de luva branca a alguém, mas este tipo de frase faz-me logo pensar numa luva puída, muito gasta, é certo que honesta, mas acima de tudo incomodada pela sua origem, muito menos boa do que esforçadinha. E os esforçadinhos armados em coitadinhos enervam-me. Deu-me pena. Ser filha de porqueiro, ter estudado, viajado e crescido muito pelo que ele é, fez-me enxergar com outros olhos, mais serenos, essa coisa do que é a nossa história. Custa-me um bocado quem a nega. Fico sempre com a sensação que se embadalhocam tanto mais quanto mais de mão passam na história, numa tentativa, tão tola, tão tola, de, aos seus olhos, parecerem melhores. Como se isso se medisse por aí. Depois, bem, depois descambou e lembrou-se de "piadar" convicto de uma inocência que um homem como ele não pode ter. À mulher de César não basta ser séria, é preciso parecer séria. Dávamos todos de barato que tem contas para pagar, que trabalha aos sábados (quem não trabalhar, que levante a mão) e que não tem amigos perdulários. Não era preciso aquele número. Deviam ter-lhe ensinado que vale mais cair em graça do que ser engraçado. Pior, nem sequer foi engraçado. Esperava outra coisa. Tanto tempo depois, tantos episódios passados, escusava de ter-se tornado numa personagem de revista. Está a um telefonema de fazer férias na ilha da Caras, é a sensação que dá. E não lhe cai bem. Tenho pena. Esperava outra coisa. Esperava que se mantivesse mudo e quedo. Era isso.
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