sexta-feira, 23 de maio de 2014

Vou voltar à modista


Em miúda, e porque sou muito filhinha de mãe, ia à modista. Normalmente, a minha mãe desenhava os modelitos ou escolhia-os nas revistas da Cadena, vínhamos ambas ao Manequim ou à Casa Coelho comprar os tecidos e a modista dava corpo à coisa. Não havia tanta fartura de pronto a vestir, as coisas nem sempre eram bem acabadas, e salvo honrosas excepções à Loja das Meias e à Benetton, a roupa era de modista. Fui aos Bailes de Gala com vestidos da modista e quando acabei o curso usei um vestido com pedras vermelhas cosidas à mão por ela. Depois veio a febre das lojas com toda a raça de coisas giras, os preços baixíssimos de roupa quase descartável, a moda dos básicos, os tamanhos todos à escolha, os ajustes à medida e rendi-me a fazer compras de coisas que podem sair da loja à tarde para eu vestir à noite - os vestidos das Lanidor, da Nice Things, da Globe, da Massimo Dutti, da Sisley, da Caroll, da Tintoretto, da Alan Manoukian, os básicos da Zara, da Mango, as calças direitas da Ana Sousa, as saias da Sacoor, as camisas da Gant, os pijamas da Women Secret. A onda das leggins da Calzedónia. E foi-se tudo multiplicando. Mantive porém a certeza de que, quando quisesse uma coisa muito inesquecível, podia, por isso, gastar já sem tantos remorsos um ordenado num Malene Birger, que me faz um série de casamentos, ou conter-me mais, mas, ainda assim, optar por um Javier Simorra de festa. Da última vez que perdi mesmo a cabeça, fi-lo porque encontrei uma renda que tinha, porque tinha, de ser minha. Gastei uma fortuna (Para mim, foi! Gastei tudo o que tinha e andei uns três meses a pagar às pinguinhas o empréstimo que a mãe ainda teve de me fazer...) mas levei-a para casa. Esteve uns três anos à espera de destino, até que me decidi a entregá-la a uma daquelas modistas das revistas, que fazem desfiles e mimimi. Quase me pôs a pedir, mas valeu a pena, só pelo sorriso do meu rapaz quando em Setembro me viu com um vestido que espero repetir muitas vezes. Hoje, não sei... encontrei um básico mais básico não há, pus-me a magicar na vida e a imaginar-lhe uns detalhes e decidi-me. Para a semana vou aos tecidos e... um dia destes, volto à modista. Para os básicos, para o dia a dia. Só para variar, para ser diferente. 

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