Regresso agora, com um filho com menos de seis meses e três empregos. Não hesitei muito. As ofertas eram boas e era tudo gente decente. O meu marido e os meus pais garantiram que seguravam as pontas e toda eu reclamava por voltar ao trabalho. Adorei poder ver a primeira gargalhada do meu filho, conhecer-lhe de cor as curvinhas do pescoço ou antecipar o olhar maroto de quem acha o cabelo da mãe o mais atractivo dos brinquedos. Foi e é delicioso vê-lo acordar SEMPRE bem disposto depois de noites cada vez melhor dormidas ou chapinhar no banho porque encara aquilo como um spa para bebés. Mas a minha vida, mais tempo, reduzida a fraldas, leitinhos, consultas, sestas e uma horrível sensação de que o mundo está a correr lá fora e eu já nem sei qual é a notícia de abertura do telejornal, estava a dar comigo em doida. Há-de ser difícil para os pais sair todos os dias. O meu marido havia dias em que jurava que o nosso filho mudava de feições de manhã até à noite. Mas não deixa de custar ficar. Ver toda a gente chegar, até ajudar, mas depois ir. E sermos sempre, SEMPRE, nós a ficar. Ir trabalhar não deixa de ser um momento de gente grande, em que se pode tomar um café sem a preocupação de não fazer barulho porque a birra pode voltar, agora que, ao fim de três horas, conseguimos adormecer o pequenito. Ir trabalhar significa poder fazer uma viagem sem ninguém em esforço para sair do ovo, aos pontapés aos brinquedos. Ir trabalhar significa poder usar a hora de almoço para responder a mails, ir ao supermercado ou até, pasmem, ver montras. Até ver, não me sinto nada culpada por sentir tudo isto. Nada disto diminui o amor que tenho pelo meu filho. Mas é uma mãe equilibrista a que lhe está destinada. Preciso de saber que o meu filho está bem entregue. E sei que está. A partir daí, deixai-me ir. Estou cansada de só ver gente a sair e de eu ter SEMPRE de ficar. Sei que não vai ser fácil, mas quero muito que corra bem. São três empregos e um filho. É uma vontade grande de lhe dar irmãos não tarda. E um futuro todo à nossa frente. Escreva-se.
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