Às vezes, ele pergunta-me quando poderemos fazer só o que nos apetecer, ir só onde nos der vontade de estar, ver só quem nos fizer bem, falar só com quem gostamos, jantar só rodeados de amigos, sair de casa só porque nos dá na gana. Fico a olhar para ele a vagar e escolho meticulosamente as palavras. É mais por mim do que por ele que nos debatemos a tempos com fretes. A minha profissão, o meio em que me movo, as pessoas com as quais o meu caminho se cruza potenciam mais esta espécie de falta de liberdade que às vezes nos aborrece. Escolho as palavras para lhe dizer que não sei bem, que houve um tempo em que achei que isto lá ia pela idade, pelo estatuto que eu achava que a idade dava e que nos permitia mandar às urtigas o que nos apetecesse. Quanto mais cresço, mais sinto que a resposta peca por ingenuidade. Das grandes. Haverá sempre alguém a quem deva estar presente, a quem não possa dizer que não, a quem tenha de dar conversa. Por mais que, nesse dia, em concreto nesse, logo nesse, mais me fizesse sentido era ficar em casa. Não sei, meu querido, quando seremos donos de todo o nosso tempo. Resta-nos a felicidade de sermos livres no pensamento e de, onde quer quer estejamos, podermos estar a mandar às urtigas, sorrindo, quem nos apoquenta.
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