sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Finalmente... sobre as eleições!

Vamos supor que dez amigos se juntam para decidir a cor do serviço de jantar que pretendem oferecer a outros dois amigos. Há serviços de todas as cores, mas, em regra, os preferidos são um clássico azul escuro ou um modernaço amarelo canário. A votação, essa, foi no seguinte sentido:
Azul escuro - 3 amigos
Amarelo canário - 2 amigos
Café com leite - 2 amigos
Dourado - 2 amigos
Cor de rosa - 1 amigo
Feitas as contas, e parecendo ter vencido o azul escuro, resolvem encomendar o serviço. A impaciência do amigo A, que votara no amarelo canário e sempre disse que não havia cor mais bonita para alegrar uma mesa, há muito que se fazia sentir, mas foi já no interior da loja que decidiu armar uma cena e dizer que o serviço que tinham de levar era o amarelo canário. Se não, veja-se, argumentava A: amarelo canário teve dois votos apenas, é certo, mas se lhe somarmos café com leite e dourado, que puxam um bocado ao amarelo, quer se queira, quer não, então o "seu" serviço já perfaz seis votos. E, bolas, que não lhe viessem com tretas: seis era maioria, disso não havia dúvidas. Está bem que os seis podiam ter votado no amarelo canário e não o fizeram, mas, caramba, votaram todos dentro da mesma paleta de cores, mais quente ou mais fria, mas ali à volta dos amarelos. E, continuava A, esta seria a solução mais justa, tanto mais quanto parece impossível dizer que cor de rosa possa confundir-se com azul. São cores completamente diferentes, não têm nadinha a ver. E ainda por cima, juntas, perfazem menos de metade dos amigos votantes. Para A, conclui, não há dúvidas: avance-se para o serviço amarelo canário.

Vamos agora supor que eu sou especialista em cores e consigo explicar-vos que amarelo canário não é igual a café com leite e nem dourado se confunde com as duas cores precedentes. Vamos, finalmente, supor que eu consigo explicar-vos, como se fôssemos todos muito burros, que os amigos que foram à loja e votaram no café com leite e no dourado podiam... ter votado no amarelo canário. Não votaram, simplesmente porque não quiseram. Escolheram não votar nem no azul escuro, nem no amarelo canário, nem no cor de rosa. Dois escolheram ainda não votar no café com leite, porque já estão a imaginar que o dourado é que fica bem nos castiçais que a amiga põe sempre na mesa. E os outros dois, bem, acham que nada ficará tão bem com o tom das paredes da sala da amiga que um serviço café com leite. Se o amarelo canário lhes podia ser opção? Eh pá, até podia, se, por exemplo, antes desta votação tivessem pedido à amiga que limitasse a escolha a duas cores e ela tivesse dito que preferia azul ou amarelo canário. Acontece que não pediram, que a amiga nem sabe que vai receber o serviço, que a loja lhes perguntou que ideias traziam e eles disseram que o melhor era verem tudo e que vencesse o melhor. 

Eu cá, honestamente, não sei se o azul é o melhor, nem tão pouco se é daqueles que se estragam quando vão à máquina. Sei apenas, e é o que me interessa, que, pelas contas que aprendi a fazer há quase 30 anos, ganhou o azul. E o A não sabe é perder. E isso, deixem-me que vos diga, é mesmo pouco democrático!

P.S. "Puxar um bocado ao amarelo" e "andar à volta do amarelo" não significa "ser amarelo"!

3 comentários:

  1. Ainda por cima, para a alegoria política ser mais aproximada, o amarelo canário seria um azul claro (com muito mais em comum com o azul escuro do que com qualquer dourado). E azul claro misturado com dourado ou café com leite dá verde e ninguém queria um serviço de loiça verde, mas essa é outra história.

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  2. Analogia brilhante. É que é isso mesmo, e tudo se resume a um "é mesmo pouco democrático". Acrescentaria ainda que A quer é ganhar e pronto.

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  3. Concordo com tudo o que disseste e com os comentários anteriores, excepto num pequeno ponto, a democracia é e sempre foi feita de acordos, coligações ou qualquer outro nome que lhes queiram chamar, temos imensos exemplos disso por toda a Europa. Se o partido mais votado não conseguiu gerar consensos e alguém apresentar uma maioria mais estável, situação que no caso em concreto acho ser improvável e pouco estável em termos futuros, não me choca absolutamente nada que formem governo. Parece-me estranho é quem se diga democrata e ache o contrário.

    PS: Só para que fique registado, a minha cor nestas eleições foi o branco, if you know what I mean. Não acho nenhum deles merecedor de nos governar.

    PT

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