Hoje, debaixo de uma chuva miúda e fungando de um nariz ranhoso, vinha eu muito agasalhada com uma capa preta quando a A. se abeirou, confundindo-me a capa com uma toga. A impaciência com que me pediu ajuda fez-me deixar de lado explicações sobre isso de ter a inscrição suspensa e não fazer da advocacia vida já há uns anos. Nem quando, aos seus queixumes, imperturbável, sugeri o apoio judiciário, a A., nobre, se exaltou. Explicou-me a vagar que vai a tribunal na quarta feira que vem. Que desde Agosto que não vê a filha. Que a criou o melhor que pôde durante nove anos. Mas que voltou a consumir. E que a vida se virou do avesso outra vez. Que só quer, "oh doutora", ver a menina. Nem que seja com mais gente ao pé. Mas vê-la. Promete não ir para lá a cair. Por favor. Ouvi a história e disse o que tinha a dizer. Enfiei-me no carro e revi o vídeo gravado hoje de manhã. Uma pessoa estuda sobre a limitação, sobre a inibição, sobre os pais e os filhos apartados, e vai a vida e põe-nos a A. assim à frente. Como um caso prático. Tão triste.
Sem comentários:
Enviar um comentário