E passei. Quem nos ouvir falar disto, há-de legitimamente pensar que não temos mais o que fazer ao tempo, mas a verdade é que gostamos de desafios e somos um bocado doidos. Ontem, já perto das oito, quando cada um acalmou o ritmo para jantar e depois voltar ao trabalho, dessa feita já em casa, na secretária mas de pés descalços, soube pelo meu rapaz que o Público tinha disponibilizado a prova dos professores. Resolvemos imprimi-la e fazê-la, cada um na sua cidade. Demorámos uma hora, ambos cheios de interrupções (ele ainda atendeu um cliente pelo meio e eu ainda marquei orais e respondi a três mails de dúvidas... ah... e comi um pêssego!). E passámos ambos. Falo por mim. Tive cinco erradas, sendo que contesto o resultado de duas. Uma em que era para contar estações e eu acho que se deviam contar a de partida e a de destino e os critérios de correcção só contam as intermédias, e outra em que era preciso encontrar sinónimos para um provérbio e eu tenho para mim que a minha solução é que está certa. Mas pronto, supondo que eu era uma das professoras avaliadas mas que não me queria dar ao trabalho de impugnar os critérios porque me apetecia era ir para férias, ficava com 87,5%. Feito o exame numa hora, quando o dito estava pensado para ser acabado em duas. Ou seja, sendo por demais conhecido que não sou um génio, fica claro que a prova dos professores é uma grandessíssima tanga. E explico porquê. Em primeiro lugar, porque é uma prova de raciocínio, de lógica e não de cultura geral, sequer. Ou seja, é uma prova para ser feita por qualquer alma com dois dedos de testa e que já saiba ler, interpretar e fazer contas simples. Assim sendo, é uma prova que não pode achar-se útil para alguém que já concluiu um curso superior, porque algo andará muuuuuiiiiito, mas mesmo muito mal quando um professor chumbar. Significa, notem, não que a prova é útil, mas tão só e apenas que alguma universidade deste país fez muito mal, mesmo, mesmo, mesmo muito mal o seu serviço, porque permitiu que uma nódoa se licenciasse. Em segundo lugar, porque, sendo uma prova de raciocínio, não avalia aquilo que eu acho que pode legitimar uma avaliação no acesso à carreira docente: a aptidão pedagógica. Os conhecimentos são avaliados ao longo de uma licenciatura. Mas a aptidão pedagógica, não. E o que mais há para aí é gente que até pode ter a prova muito bem cotada, mas que é tão bom a dar aulas como eu a matar frangos. Ou seja, esta prova não avalia coisíssima nenhuma que seja de utilidade para saber se determinada criatura pode ou não ser professor. Acho eu. E, também por isso, a prova é, na minha opinião, um enorme disparate. Mas enfim... isto sou eu que digo.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
sexta-feira, 18 de julho de 2014
Eu procuro
Um sítio onde haja alguma coisinha para ver, mas também um hotel com spa e jardim e sombra e comida boa boa. Prescindo bem de praia e bateria palmas de contentamento se lá no destino não fizesse mais de 25 graus. Era bem bom que não fosse longe, mas também não nos apetece ir propriamente para aqui ao lado. São só dois ou três dias. Convém que sejam perfeitos. Nós merecemos. E Roma ainda está lá tão longe... Ai, ai! Ideias, minha gente... Ideias. Somos uns comodistas comichosos. Não nos proponham campismos, plasalminhas!
Ide-vos...
Minuto um: Clico no "Disponibilizar pauta aos alunos"
Minutos dois: Ligo a informar os serviços, que me dizem, com muita normalidade "Já sabíamos, Senhora Dra. Já estamos a receber inscrições para melhoria..."
Esta gente não quer ir de férias? Esta malta não curte descanso? Alguém lhes pagou para me fazerem penar até dia 31?
O drama e o horror
O meu homem tem uma fixação pela Sophie Marceau. A rameirona, ao que parece, divorciou-se, ou o raio. Para o que conta, a gaja está livre. Viseu vai ter aviões a chegar e a sair. A rameirona deve andar de avião como eu bebo água. Eu não ando nos meus melhores dias. Não tenho tempo para nada e passo a vida aqui enfiada, com palitos nos olhos, a ver se despacho os últimos exames. Nos bocaditos em que vou à cama, tenho pesadelos de que o homem me deixa porque vou ao médico e tenho as costas tortas. Definitivamente, preciso de férias, em suma. O rapaz, cheio de piada, acha lindo, no contexto descrito, ir-me informando que a p*ta está vaga. Estou capaz de ir à França...
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Tufão Manuel e a meia maratona!
Dormi esta noite em casa dos meus pais. Pela manhã, levantei-me para ir ao dentista e brinquei um bocadinho com ele. A nossa F. andava a arranjar canteiros no jardim, o meu pai e o meu tio estavam junto ao portão, o portão estava aberto. E é este o enquadramento. Tufão Manuel já se tinha conformado com o facto de eu ter mesmo de ir para o dentista e então sirigaitava por perto do meu pai, dava uma lambidela na mão da F., tentava arrancar-lhe a luva, quase podia jurar que, se soubesse fazê-lo, Tufão Manuel se preparava para assobiar para o ar o resto da manhã. Nisto, um desgraçado de um cão pequenito decide passar na estrada, em andar de passeio. Tufão Manuel deve-o ter cheirado, ou o raio, e foi vê-lo correr como um foguete. Eu e a F. gritávamos para que voltasse, o meu pai ia de carro atrás dele e o meu tio tinha sido o primeiro a sair disparado, em cima de uma bicicleta, para ver se não perdia o cão de vista. Tufão Manuel perseguiu o cachorrito uns duzentos metros, depois fez uma tangente à bicla e outra ao jipe em que seguia o meu pai e veio sentar-se confortavelmente numa espreguiçadeira lá de casa. Como se não fosse nada com ele. Do cachorro, não há sinais... Acho que se desintegrou com o susto.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
É (quase) sempre a minha voz da razão
Adiámos Nova Iorque a custo, a muito custo, deixámos Roma para Dezembro, altura em que a coisa ou se deu, ou já tivemos de lhe perder o sentido, engonhamos de cada vez que alguém fala em férias. Andamos estoirados. Assim mesmo a dar o cu aos cães, como se diz na minha terra, de tão exaustos, de tão cheios de sono e dores de cabeça e costas e pernas e tudo. Apetece-nos é deitar e dormir uns três dias seguidos. Sem comer, sem beber, sem falar, sem nada. Apetece-nos parar e arrumar na cabeça a ideia boa de que as coisas podem (e vão mesmo) ter de esperar que nos sintamos recompostos. Ao fim de semana, planeamos mil e uma coisas e acabamos quase sempre a meter acções (ele) e a corrigir provas ou a escrever arguições de mestrado (eu). Vamos para cama cedo. Abrimos os livros cheios de ganas, mas estamos é apenas a ver quem é que o fecha primeiro para lhe seguir o caminho. Estamos, basicamente, mais para lá do que para cá. Fartinhos de calor e de trabalho ao calor. Por isso, hoje, matreira, sedutora, acenei-lhe com quatro dias em Amesterdão. Sabia que o plano era arriscado, mas não resisti. Ele, certamente numa voz sumida de quem trabalhou a sério muitas horas deste dia que já vai longo, disse-me só "Temos a tese... Tens de acabar a tese...". Até me dói o peito só de pensar na razão toda do lado deste homem, até se me aperta o nó na garganta de ver os prazos minguarem e eu prensada ali no meio a clamar por férias... e a vê-las passar... sem mim. Quando um amigo voz disser que quer ser académico e que não se importa de ter de fazer um doutoramento, mandem-no falar comigo. Eu tiro-lhe essas manias.
sexta-feira, 4 de julho de 2014
(...)
Eu choro muito. Choro muito de tristeza e choro muito de alegria. Expulso as mágoas e espalho as alegrias com a água a sair-me pelos olhos. Choro de alegria lágrimas miúdas, que se formam nos cantinhos dos olhos e não chegam a escorrer. Não fico de nariz vermelho, mas encho-me de calor. Transpiro e é só alegria a sair-me pela pele. Pela pele toda, poro a poro, a alegria a multiplicar-se, a perfumar-me o ar à volta, a contagiar. Mas choro de tristeza lágrimas gordas e que se escusam a viajar sozinhas. Formam rios inteiros a desaguar-me no pescoço e no peito. Vêm com funguices de nariz e um frio muito frio, um desconforto muito desconfortável e um negrume que se abate sobre o meu peito e me mina o momento, o dia e a vida. Naquele parêntesis em que é tudo breu em mim, choro umas lágrimas profundas de uma dor que nunca desferra. Nem sempre choro essas lágrimas maiores, como regatos de água, mas maiores, nas perdas. Às vezes, aí, calo-me fundo e choro para dentro, como a ver se o barulho da água a correr-me em direcção ao coração o desperta do sono mudo em que mergulha nas dores irrecuperáveis. Não é tanto nessas que as lágrimas se atropelam nos meus olhos. É nas dores dos dias, nos episódios espinhosos do quotidiano, nas falhas da vida normal, nos engodos brutais das irreflexões. O que me faz cair em desgosto frio é o drama que passa, que vai passar, mas magoa e perturba, vira a mesa e fala mais alto. É aí, aí mesmo que os meus olhos viram nascente e o frio me entra todo cá dentro e eu passo a dar o meu reino e mais um doce por um abraço. Caladinho.
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Subscrever:
Mensagens (Atom)